
Iº CARTA DE JOÃO
Isaías de JesusIntrodução
A primeira epístola de João tema de nosso terceiro trimestre, revela-nos os grandes ensinamentos do discípulo do amor. A carta escrita entre 85 e 95 dC, numa época de grande turbulência religiosa, o nobre discípulo de Cristo, lutava com todas suas forças para que o evangelho puro e genuíno fosse anunciado. Com objetivo de alcançar todos os Cristãos, o apóstolo combatia a existência de falsas doutrinas e ensinos que sorrateiramente estava agindo dentro das igrejas.
Está epístola reforça a preocupação do servo do Senhor com a igreja daquele período. Diante dos diferentes problemas enfrentados nos dias hodiernos, a igreja deve estar atenta aos desafios enfrentados no passado. Nossos “pais”, que pela direção do Espírito Santo, nos deixaram ensinos preciosos sobre o perigo dos falsos ensinamentos.
João um apóstolo preocupado com a igreja.
Devido aos falsos ensinamentos, as igrejas eram atacadas diretamente (Hb 13.9, I Tm 4.1,2). O combate as heresias, que haviam surgido dentro das igrejas (1 Jo 2.18,19), conscientizavam os cristãos a permanecerem ligados ao evangelho. Desta forma, guardando a verdadeira fé em Cristo.
As heresias que são doutrinas opostas aos verdadeiros ensinamentos, tende a promover facções. Esta palavra é encontrada na bíblia e equivale a seita, (At 5.17; 15.5) por facção (I Co 11.19, Gl 5.20, 2 Pe 2.1). Por conseguinte, o apóstolo João lutou combatendo este mal que é tão atual quanto naqueles dias.
Mas quem era João?
Segundo o texto bíblico João era irmão de Tiago e o nome de seu pai era Zebedeu. Talvez por suas personalidades forte fossem cognominados filhos do trovão (Mc 3.17). Era pescador e trabalhava junto com seu pai e irmão (Mt 4.21). Foi contado entre os doze discípulos escolhidos por Jesus (Mt 10.2). João e seu irmão, juntamente com sua mãe foram protagonistas de um pedido um tanto inusitado (Mt 20.20-23). Foi repreendido pelo Senhor (Lc 9.54,55).
Participou da transfiguração de Jesus no monte com seu irmão e Pedro (Mc 9.2). Presenciou a ressurreição de uma criança (Lc 8.51). Permaneceu até os últimos momentos da crucificação (Jo 19.25-27). Foi ao sepulcro após saber da ressurreição (Jo 20.2). Estava com Pedro na cura de um coxo na porta formosa (At 3.1-9). Pregava o evangelho com ousadia e autoridade (At 4.13).
Paulo o considerava como coluna da igreja (Gl 2.9). Teve a revelação, por parte do nosso Senhor Jesus, do livro do apocalipse (Ap 1.1). Escreveu as sete igrejas da Ásia (Ap 1.4). Por causa do evangelho foi preso na ilha de Patmos, uma pequena ilha rochosa localizada no mar Egeu, a sudeste de Éfeso. (Ap 1.9). Teve a oportunidade de contemplar as maravilhas da nova Jerusalém reveladas pelo Senhor ( Ap 21.2).
Segundo Jon Fox, em o Livro dos Mártires, escreveu sobre João o discípulo amado; “As igrejas de Esmirna, Pergámo, Sardes, Filadélfia, Laodicéia e Tiatira foram fundadas por ele. Enviado de Éfeso a Roma, conta-se que foi jogado num caldeirão de óleo fervente, de onde escapou milagrosamente, sem dano algum. Domiciano exilou-o na ilha de Patmos, onde escreveu o livro de Apocalipse. Nerva, o sucessor de Domiciano, libertou-o. E ao contrário dos outros apóstolos, foi o único que morreu de morte natural” (Fox, CPAD pg.6).
Uma mensagem diferente.
O apóstolo do amor como ficou conhecido, sempre manteve diante das adversidades uma postura séria ao divulgar o verdadeiro evangelho. No trato com os irmãos o apóstolo ressalta em sua carta a generosidade deste amor. Usando por cerca de oito vezes a palavra “filhinhos” (1° Jo 2.1; 2.12; 2.18; 2.28; 3.7; 3.18; 4.4; 5.21), no grego se lê tekníon, que significa criançinhas, este substantivo retrata a qualidade impar deste apóstolo.
Ao aproximar dos irmãos com este tratamento, o que se percebe é um homem que experimentou o aprendizado de andar com o mestre dos mestres Jesus, quanto ao trato com os seus discípulos (Jo 15.14). O apóstolo foi marcado pelo amor ao evangelho e sua proximidade com o Senhor Jesus impregnou-o com um amor profundo pelas almas.
Uma testemunha fiel.
Outro aspecto que permeia a 1° epístola de João é a veracidade de ele ter estado com o mestre. A base de sua fé era imutável, “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida”. 1 Jo 1.1. O evangelista transfere para sua carta toda a sua intimidade com o Senhor Jesus. Sem dúvida, o escritor do quarto evangelho não só viveu com o mestre, mas suas mãos o tocaram.
“Ora, um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus.” Jo 13.23. O amor que Jesus nutria pelo referido apóstolos, verificou-se tanto em vida como no ato de sua crucificação, pois lá do madeiro, o mestre querido transferiu a responsabilidade de cuidar de sua mãe ao seu discípulo amado (Jo 19.25-27).
Nesta carta encontraremos muito mais do que tratados eclesiásticos ou ensinos contra as heresias. Encontramos um homem, preocupado com a igreja naquele momento, e por muitos outro que ainda estariam adentrando ao reino dos céus (Jo 10.16) até o fim dos tempos.
Um pouco de História.
Para se entendermos o momento histórico no qual viveu o nobre apóstolo, é preciso compreender que após a diáspora judaica, do ano 70 da nossa era, pouco é revelado nos textos bíblicos sobre os governos daquele período. Na trajetória histórica dos imperadores romanos podemos identificar um pouco da vida do apóstolo João. O apóstolo sofreu o desterro para ilha de Patmos onde ele teve a revelação do livro de apocalipse. Do ano 70 até ao ano 95 o império romano teve muitos imperadores, e cada um teve papel importante na história da igreja.
Tito Flávio Vespasiano (Vespasiano)
Após a morte de Nero surge no comando do império romano Vespasiano, que se tornaria imperador entre os anos de 69-79.
Importante imperador romano nascido em Falacrina, também grafado na forma latina como Caesar Vespasianus Augustus, o fundador dadinastia Flávia, e que através de uma enérgica política pôs fim às guerras civis que assolaram Roma após a morte de Nero e promoveu a unidade interna do império. Foi designado por Nero para reprimir uma rebelião dos hebreus na Judéia (67). Conquistou toda a Judéia, exceto Jerusalém. Com a morte de Nero (68) voltou a Roma, deixando seu filho Tito no cerco a Jerusalém.
A cidade de Roma perde estabilidade política e fica perto de uma guerra civil. Proclamado imperador (69) pelas legiões egípcias, seguidas pelas da Síria e da Judéia e com o apoio de Muciano, combateu e venceu as forças de Vitélio, que foi derrotado e assassinado. Devido à sua origem humilde, operosidade e simplicidade, tornou-se muito popular e, em função deste prestígio, o Senado lhe delegou poderes excepcionais. Promoveu a estabilidade política e revitalizou a economia imperial por meio de rigorosa reforma tributária, desenvolveu um vasto programa de obras públicas como a restauração do Capitólio e o início da construção do Coliseu.
Tito Flávio Vespasiano (Tito)
Imperador romano nos anos de 79-81, provavelmente nascido em Roma, filho mais velho e sucessor de Tito Flávio Vespasiano, que terminou a construção do Coliseu, obra iniciada por seu pai. Foi indicado comandante de uma das legiões comandadas por seu pai na Judéia. Demonstrou notável bravura, e assumiu o comando da guerra quando seu pai foi proclamado imperador (69) adquirindo grande prestígio militar, após sufocar a Revolta Judia. Foi responsabilizado pelos judeus pela destruição de Jerusalém (70).
Durante o reinado de Vespasiano, participou do poder imperial, ocupou sete consulados e comandou a guarda pretoriana. Morreu em Roma e durante seu curto reinado ocorreu à catástrofe do Vesúvio (79) e Roma sofreu um grande incêndio e foi atacada pela peste.
Tito Flávio Domiciano Augusto ( Domiciano)
Imperador romano (81-96) nascido em Roma, considerado o último imperador da Dinastia Flávia e cuja política centralizadora e a atitude tirânica, semeou o terror entre os habitantes de Roma, e tornaram seu governo extremamente impopular. Segundo filho de Tito Flávio Vespasiano, e sucessor do irmão mais velho Tito Flávio Vespasiano, o filho, limitou os poderes do Senado, irritando ainda mais os senadores ao acumular os títulos de cônsul (82-88) e de censor perpétuo (85-96). No campo militar obteve grandes vitórias como a conquista da Grã-Bretanha. Construiu uma fronteira fortificada ao longo do Danúbio e firmou uma paz vantajosa com os dácios. Negativamente desenvolveu a repressão política e as perseguições contraCristãos e Judeus que aterrorizaram toda a população. Foi no período do governo de Domiciano, segundo a tradição, que o apóstolo João foi desterrado para a ilha de Patmos. Domiciano morreu assassinado (96), vítima de uma conspiração palaciana da qual aparentemente participou sua própria mulher.
Marcus Cócio Nerva (Nerva)
Imperador romano entre os anos de 96-98 nascido em Umbria, eleito pelo senado após o assassinato de Domiciano, em apenas dois anos de governo notabilizou-se como administrador justo e introduziu reformas liberais tornando-se um dos governantes mais queridos da história imperial, embora não tenha tido apoio militar. Sua carreira política sustentou-se na lealdade e respeito ao senado. Não se conhecem experiências militares ou nomeações para governos provinciais em sua carreira, ele permaneceu decididamente leal ao Senado. Por sua idade, sua dignidade e o fato de não ter filhos, não havendo, pois, perigo de que ele fundasse uma dinastia ou adotasse os métodos autocráticos, foi escolhido imperador provisório (96) em substituição a Domiciano. Em suas reformas liberais, permitiu que os exilados voltassem e foi proclamada a liberdade, a libertas. Segundo John Fox, em o Livro dos Martires, foi no governo de Nerva que o apóstolo João ganhou a liberdade e pode sair da ilha de Patmos.
Como podemos perceber na história da igreja primitiva, as vidas de todos os cristãos e judeus e principalmente dos apóstolos, eram atingidas diretamente pelos governantes romanos.
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” Rm 8.28. Não foi a prisão que calou o apóstolo, nem mesmo as perseguições. A epístola de João é fascinante e serve de alerta para todos nós. Vivendo num tempo de crise, não se tornou mais um no meio da multidão, alçou a sua voz e proclamou o verdadeiro evangelho. A sua voz ecoou por quase dois mil anos e chegou até nós.
Conclusão
“Irmãos, não vos escrevo mandamento novo, mas o mandamento antigo, que desde o princípio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio ouvistes” 1° Jo 2.7. A atualidade da epístola escrita pelo apóstolo João revela a preocupação com a igreja do Senhor Jesus Cristo. Enquanto muitos têm as “suas igrejas”, e nelas não existem mais as ações poderosas do Espírito Santo, estes correm o risco de serem presas fáceis do mundo moderno. O despertamento da igreja nestes últimos dias depende da observação daquilo que os santos homens de Deus escreveram no passado.
Presb. Juarez Alves, membro da Igreja Evangélica Assembléia de DeusMinistério Belém, Dourados, Ms.
Professor de História.
Formação Teológica ETAD.
Bibliografia
BOYER Orlando, Pequena Enciclopédia Biblica. Rio de Janeiro, CPAD.
FOX John, O Livro dos Martires, Trad. Marta Doreto de Andrade e Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro, CPAD 2001.
JOSEFO Flavio, Historia dos Hebreus. Trad. De Vicente Pedroso. Rio de Janeiro, CPAD, 199O.